segunda-feira, 12 de abril de 2010

De manhã

De manhã, revejo o grande sol nascer
Para este lado da terra.
Gozo friamente como um doido,
Como se depois ele nunca fosse voltar,
E adoeço ao raio monótono dos átomos.

Ergo-me, minhas pálpebras estão quentes,
E saio, alegre, sem ligar para o sol
No horizonte quente e esquecido..

Entro em casa,
E sei, que naquele momento
Fui eu mesmo e uma criança...
Sim, senti infante o frescor da manhã,
Sem a responsabilidade de ter que entrar em casa
para preparar o café.

Dois Sonetos

I

Pobre a música do sonhador que é feliz,
Pobre a música que agrada somente
Os metáfisicos e não ao próprio sonhador. Pobre a semente
Que cresce fora do homem e ele é um alegre infeliz.

Sejas triste assim como deves ser.
Agrada-te de tua alma completa, essa
Que num edital de orquestra tem pressa
De obter a semente suprema. Elevas de prazer

A tua dor como um arco íris que procria
A felicidade falsa de tuas lembranças...
Navega ao fundo do nada extremo, nas distâncias,

E escreve um poema sobre a tua triste alegria!
Faz isso tudo além do homem e da ciência
Orgulhoso da tua alta inconsciência...

II

Vive a vida e o seu pesar, sozinho, incerto...
Ama a tua liberdade e a tua complexidade,
E colhe nas ânsias da tua subjetividade
A trancendência suprema do seu deserto...

Segura tudo como um sentimento de suporte:
A dor dura e disforme, dia após dia.
A felicidade ao fogo forte e fatal da alegria.
Sim, leva tudo isso mesmo após a morte!

Não sei quem sou nem quem tu és,
Descubra tudo que descobrirás um dia; a ti,
As batidas dos timbales e dos tambores que aqui

E na tua alma estremecem, e também ao som dos oboés...
A vida é simples demais, boa ou mal
- Mas só o espírito é trancendental!

Mãe-Silêncio

Não trazei-me ninguém, não trazei-me nada...
Não trazei-me companhia nesse momento...

É noite, estou só.
Nada vibra,
Somente o silêncio lento desmantela-se nas curvas dos móveis da minha casa.
Meu corpo calado é o infortúnio que a verdade trouxe.
Veio ter comigo, em meu berço - a Mãe-Silêncio -
Veio afagar-me, e chorei...

Ó Mãe-Silêncio! não divisa mas dispersa,
Cuida de mim para que eu não acorde exausto,
Cuida de mim, ergue a tua mão infinda
E traz em tua taça egrinaldada de tristeza, a dor,
E dá-me de beber como se bebe o absinto...

Percorri a estrada até em casa, sozinho,
E não colheram os embriões no chão,
Não acalentaram a margem da urina de minha mãe,
Não consolaram o grito mudo da minha sombra miserável!

Ò Mãe-Dia, Mãe-Noite, Mãe-Cor, Mãe tudo!
Por que atirou-me o arco se não errou a flecha?
Por que passas-te a tua túnica em minha alma
Se não errou o véu da tristeza?

Ò Mãe-Silêncio, eu não farei mais do que copiar-te em verso...
Ah, és para mim a angustia indivisa,
És para mim como um vulcão se pulso
O eterno intervalo da minha dor...

De leve, seranamente

De leve, serenamente
Ergue-se uma canção dentro de mim...
Ergue-se uma tristeza invisível ao mundo exterior.
A minha tristeza é tão clara para mim como a água é para todos!
Que desgraça a natureza humana ter posto um embrião
Onde o pranto da vida chorou em cima...

Errei a igreja da cerimonia, e não me consolaram...
Trouxeram até mim falsos arquitetos dos sonhos
Para que me desorientassem do meu mundo.
Tentaram simpatizar comigo mas eram indiferentes a mim.

Não tinha percebido quando cheguei aqui,
E quando cheguei, estava tudo mudado.
As casas, as árvores, as coisas já não eram as mesmas
E as esperanças dos idílios murcharam em silêncio

Não tive tempo para chegar até as taças da vida para sorrir,
E quando supus que chegava, não sorria!
Não fiz mais do que me negar a vida.
Não fiz mais do que viver sem se viver dentro de mim, não o sei. -
Pessoas de alma calma passaram diante de mim,
Passaram longinquamente perto de mim.
E passaram catando éclogas também calmas...
Não pude segui-los,
Não pude nem sequer sair do meu lugar.
Não pude alcançá-los para que me abrandassem a alma.
Sim, sou como a criança das cidades e tremo!;
Tremo como um gesto físico de todos os gestos!

Nunca tive esperanças para as maravilhas do mundo,
Ao calor do sol supus outro sol de acordo comigo.
Ao clarão escuro da lua supus outra lua.
Na guerra o meu esforço foi como um pão velho jogado no meio da rua
E amassado por um comboio antes que o mendigo o pegasse.
Minha vida? - gozo inútil sem sexo nem prazer...

Vácuo Complexo (alma complexa)

Desenterrei da minha alma extensa o vácuo do universo,
E no desabrochar das flores escuras desse vácuo
O mel-amargo desceu-me pela espinha abaixo...
Senti-o em mim como uma turbulência sem terror,
Senti chorar todas as minhas fibras complexas.
E, conscientemente inconsciente passei pelas amplidões do mundo
Como um bicho absurdo anunciado ao despertar dos sonhos.

Não sou tal qual aquele que julgava ser.
As sensações de criança que concebia a mim mesmo
Mandei-os embora pelas portas do fundo porque senti-me diverso,
E balançado em direções sem sentido
A inteligência de compreender misturou-se-me com a inteligência de não compreender!
Compreensivelmente incompreensivo, reparei em mim,
E a ânsia, já irreal, estourava em espumas de carne e espírito...

(Ó meu ser indefinido, que será de ti nesta forma de vida?)

Tive grandes propósito para a alma.
Tive episódios eternos de tanto supor.
Tive naufrágios universais em minha alma
Da festa trancendental onde os astros
Em uma oscilação monótona esbarram entre si e os outros.

Mas, em fervente imensidade da alma,
Da alma infinita entre o vácuo e as estrelas,
Nas ânsias dos sonhos e da supremacia
Saber a verdade -
Saber que Deus não tenha feito o universo, mas suposto.
Saber que somos a suposição de Deus por ele mesmo.
Como se esta suposição fosse um teste
E o real de nós estivesse em outro lugar, em outro tempo!
Esperando que a suposição deixe-se de ser,
Esperando que a suposição morra -
Esperando que eu também acabe de supor...

Noite

A tarde finda, e as nuvens de cinza alaranjado e frias
Pouco a pouca desaparecem no horizonte taciturno,
E a cor roxa com negra da melancolia se confundem.
Flutuam farrapos de nuvens quase policromas,
O ouro vai baixando, se escondendo,
E o sossego começa além disso tudo!,
Começa além de todas as casas, árvores e gentes.
O céu despe-se, e as sombras já são frias.
Sim, a escuridão que paira por cima das casas e dos cumes,
A vida do bulício sendo agarrada pelo silêncio.
Esse mesmo silêncio cai por sobre mim,
Cai como um manto que se solta dos ombros dos príncipes-das-trevas,
E depois dispersa-se em toda a existência.

Luzes elétricas rutilam,
Paredes enegrecem,
O céu já é um escuro monótono e diverso,
E a lua está invisível para mim.
Ò, não, estas sombras não!
Estas sombras trazem das distâncias
Pavores de todas as latitudes e longitudes,
horrores de abismos e de assombros,
Monstros de angustia e solidão...

Ó supremas invocações que a noite traz!
Ó vácuo extremo de treva e mistério!
Quem és tu?
Mas ah, estrelas rutilantes sobem - notabilíssimas,
E acendem pouco a pouco em meu olhar (também frio)
Um amabiíssimo fascínio estelar...

Por fim, enxerguei a lua,
Lá no fundo, emergidamente branca,
Sem monstros, sem sombras, sem ninguém...
Antiquíssima!
E ao meu redor tudo escuro,
Ao meu redor inútil!
Uma lágrima ergue-se dentro de mim,
E, real, parte para um grande abismo,
Para um grande vácuo de nada,
- Que sou eu mesmo...

Importante Impossível

Somos ireespondívelmente o que não somos.
Universo, conhecimento, cérebro e homem...
A maneira de pensar o que queremos,
A maneira de conhecer o que não sabemos,
A maneira de ser, de ter e sentir,
Todas as maneiras unificadamente psíquicas, úteis ou inúteis,
Todas as maneira de como nós agimos,
Tudo, tudo além de nossa displicência e indiferença,
Toda faculdade e espírito de imaginação,
Toda combinação de ideia e fantasia,
Tudo o que nos leva a supor,
Todo o nosso devaneio de nossa criação,
Tudo o que nós cismamos inventar ou presumir,
Além do antrípico...
Tudo isso é mais real do que nós mesmos.
Tudo o que não existe,
Tudo o que é abstrato ao homem,
Tudo o que leva a ser veleidade -
É tudo mais importante que a própria gente.
São importantes são além da capacidade de toda gente,
São importante porque são impossíveis...
Sim, o impossívelmente impossível é mais importante...
Sim, por que são impossíveis...

A única verdade é a infância

Não, não avalie
A plácida forma da verdade,
Deixe a verdade com a conformidade do impossível,
Deixe-a taciturno, oculta, insondável...
Não há ternura nem calor
Na plácida forma da verdade anônima...

... ó, não faça, não seja -
A única verdade é a infância!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

À Angra

Te amo tanto .
Te amo com loucura e angústia
No desespero íntimo e voluptuoso...

Te amo pujante e comprido.
Te amo comovido e tranquilo...

Como a ardente graça de tu intensidade...


Te amo em todas as tonalidades,

Em todos os ritmos - em todos os aromas!

Só tu me fazes louco e poeta!

Ò musa da minha ternura,
Felicidade dos meus sonhos...

Só tu és doce como a flor que desabrocha...


Como a luz do amor que geme
Ò meus lábios de alegria
Me afogo nos teus braços quentes
E no fulgor que a tua face alumia.


Ah! doce ventre virgem da vida!
Tu és meu perfume e luz que renasce.
No brilho de tuas mãos apetecidas
A flor do amor desabrocha e nasce!

Quando jogarmos a toalha da velhice
E ter no rosto o sorriso da vitória
Descansaremos nas sombras da árvores,

Para contar aos netos a nossa história!
Então, nossa canção escreverei nos mármores
A ardente beleza de nossa glória!...

Frescor das minhas feras...
Divina luz do meu medo...

Não saia de mim
Que serei teu eterno Amo!

Por ti - morrerei chorando!
Por ti - darei a minha vida!
- Serei o cadáver do teu corpo -

- ETERNAMENTE -

Ass. John Lennon da Silva