sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Voluptuosidade Universal

Foi no núcleo da orgia e do orgasmo que o mundo surgiu.
A terra em elevar-se foi surpreendida pelos oceanos,
E na orla de ambos surgiram as primeira matérias orgânicas...
Depois disso, a sabedoria de Deus foi deslumbrante,
E na volúpia de seus sentimentos criou o homem e a mulher!,
Então, macho e fêmea de todas as existências classificaram-se,
Desprenderam-se estirados e jazidos;
Estirados ao ócio e ao trabalho
E jazidos entre o amor...

E, sexualmente transmissíveis surgimos -
Do núcleo da orgia e do orgasmo de Adão e Eva!

Com triste esforço

Nenhuma musica veio tocar aos meus ouvidos,
E murcharam as últimas flores no jardim...

Ninguém!, ninguém!
Ninguém veio ao pé de mim e chorou,
Ninguém veio até mim com a expressão de tristeza,
Ninguém (ou quase ninguém) vagamente chegou e disse:
- Adeus, amigo, adeus!...
Ninguém disse adeus,
Todas foram embora com a expressão de felicidade.
Foram embora com todas as congratulações...
Sim - não fui análogo a ninguém,
Fecharam todas as portas e todas as janelas,
E como um mendigo, bati em todas as portas a procura da felicidade...

(Um ruído longínquo ecoa em minha alma!)
Ó, meu espírito, minha luz, minha verdade e meu herói!
São trágicas as despedidas,
E ontem fiquei triste...
E se ninguém diz adeus, digo eu:
- Adeus amigos, adeus!...

Sempre, ó Poesia!

Trago no meu coração dolente a alegre tristeza.
trago comigo a culpa de existir e o berço dos pesares.
Trago nos meus versos o ritmo dissoluto.
Trago a ânsia das minhas lágrimas errantes,
Lágrimas que por serem errantes são minhas;
E por serem minhas são errantes...

A vida faz-me tremer a frio como um cão espancado
E deixado sem esperança ao relento da noite,
E depois como quem fugiu e morreu engasgado com a própria alma!

(Aqui desabafo, aqui choro - aqui morro!)

Eu, como um chicote podre, tentei bater nas costas da vida,
E ela, sem clemência correspondeu-me com o nada...
Ela, a vida... transfixa!
Ela, a armadura do gozo e da carne,
Que quando na blandícia do não sei, a vida pesa-me,
Depois encontro no infinito sonhos que não são sonhos...
E começa haver, em indiferentes sentidos o sossego solitário!

Ah, tão maravilhosamente sem razão,
sinto uma sufocação indefinida dentro do espírito,
Como se eu nunca tivesse tido infância
E tivesse partido diretamente para o lado errôneo e inexplícito da vida!

Vou seguindo...
distorcendo-se indeterminadamente,
ò Poesia!
Até que a vida nos separe!

Inexprimível

Sou intensamente inexpressivo,
Sou tão frio como um bolor,
Nunca plantei jardim nem flor
Em meu pensamento excessivo...

Sou tão incompreensível e indefinível
Que nem eu mesmo entendo o meu impor,
E enquanto mais levo na face esse rubor
Me torno ainda mais tão insensível!

Nunca cresci - nem nunca triunfei
E como o vento, passei sem saber a direção...
Acordei sem nenhuma realização,
Meu Deus - da-me de volta o sono que matei!

Apontamento

"Ó verdade, esquece-te de mim!"
- Depois de ter lido "Demogorgon" de Álvaro de Campos
Não sei que sensação me deu aquele verbo esquecer...

Oh! morrer e não saber a verdade,
Não saber nada, até que tudo desembarque como uma casca
E morre como um horizonte tácito cheio de abismos...

Não saber a verdade é não saber de não saber,
De não esperar, inerte, abafado ao pálido do universo!
Não - deixa-me abafado e inerte,

A verdade deve trazer sim
Uma loucura além dos espaços e das estrelas do conjunto de tudo quanto existe!
A, não! Ó verdade, esquece-te de mim também!