sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ode Sensacionista

Sentei-me na cadeira - a sós comigo mesmo.
A alma uma pouco baça, um pouco cansado, um pouco sono.
Uma pequena distração toma-me,
E uma sensação pesa-me pela espinha á alma.

A névoa é densa as minhas emoções,
È espessa aos meus olhos também baços.
Existe um vinculo fatigado e moído entre mim e a nebulosidade da vida.
Fecho as pálpebras, e não quero erguê-las,
Ah, parece-me que meus olhos vendados
Estão sem a limpidez com que ver a expressividade,
Mas, acabo de erguê-las sem as erguer
E a minha parede é como um quadro repleto de ondas,
Um cenário extenso e longínquo,
Cheio de naus e paquetes.

Que orvalho entrou pela minha porta
Sem que eu visse ou sentisse?
Que bruma rolou gravuras em meus tijolos frios e vazios?
E vejo, defronte de mim, um oceano marítimo quase nítido
Com todos os seus portos e rebocadores,
Com seus cabos atônitos e âncoras afundadas,
Com suas muralhas e mastros fitando o céu que até agora eu não consegui ver.
Botes, cordas, quilhas metálicas, válvulas,
Hélices mergulhadas - e o horizonte...
O horizonte também nítido.

E no meu olhar, somente um paquete se destaca...
Destaca-se com seu ar pomposo e preclaro, o paquete luxuoso!
O bulício dos marinheiros e tripulantes tem início.
E como me pesa a embarcação e o alarido,
De não ser eles e os conveses onde pisam e pisoteiam e ao mesmo tempo ser eu mesmo.
De me ver com tal nitidez do lado de lá, quanto daqui,
De dividir a minha alma em sete perfeições
Cujo dobro pulariam ao mar e morreriam afogados!...

O alarido da embarcação aumenta.
Sinto o cheiro marítimo alastrando-se,
Expande-se o ouro e a sua vivacidade suposta.
Viajantes aparecem das dispensas,
Tias velhas transmitem um ar de Adeus no ritmo
Como uma carícia à saudade próxima.
E engelham as faces ao vento forte antes de chegarem as ilhas longínquas,
E todo esse rumor entristece-me mais ainda...

Sofro, esta hora e este momento,
Este instante em que todos ainda não partiram,
esta ocasião própria da minha alma.
De deparar-me de aqui, fitando homem com barba feita, sorrindo da janela.
- Lembro-me, é o meu pai que nunca vi.
È o meu pai que me assistia, ainda eu menino
Montar os quebra-cabeças velhos.
O meu pai desfeito em rugas,
Debruçando ao alto o arrimo entre os braços lassos para entrar na câmara
Com cabelos brancos e desfalecidos.
Longe de mim, longe de mim e da vida...
Longe de minha mãe, porque tudo acabou
E subitamente renunciaram, voluntariamente
Como uma abdicação ao amor!
Porque as brumas não refletiam mais o mesmo sol,
E que as naus não seguiam mais nas mesmas direções!

Tenho agonia de vê-los e remorso de vivê-los, a todos...
A parecem-me mais tias e tios,
Irmãos e irmãs que deixei para trás,
Velhos e novos...
Toda a minha família está lá,
Toda a minha família em um só embarcadouro,
Toda a minha família turbulenta paira sobre o horizonte,
Toda a minha família natural, normal, congênita,
Instintiva, inata, pertencente, própria, peculiar,
Sem afeto aos meus olhos...
Mas para quê afetos, se vão sem mim?
Para quê amor, se não tive eu afeto por eles?
E só eles sorriem, felizes, a bordo da minha sensação,
A bordo da minha emoção de mim próprio.
Ante a minha vida infeliz
E a dor de não poder embarcar sem mim...

Ah, como eu queria ser toda essa família alheia e as suas esperanças e tudo!
Ser a ilha pálida de tanto verde,
Ser, simplesmente, a esteira onde pisar,
Tapete vermelho dessa realeza,
A taça de ouro na mão dessa família real,
As claraboias nos quartos aonde ver a lua e as estrelas,
A penumbra triste dessa família irreal!...

Sim, de fato, parece-me uma família feliz,
Bem lembrada por seus descendentes, (lembradas e tristes).
Não falharam com carícias e gestos para com os outros,
Não deixaram para trás seus parceiros e parceiras,
Nem esqueceram suas alegrias na cobiça
E são alegres e felizes!
Por que hão de me deixarem aqui?
Por que desfilam misturados e não me acenam com a mão, um adeus?

Ò partida a pouco de partir,
Eu não quero que me acenem somente
Porque um aceno apenas não vale!
Vogo - esta excitação dolorosa -. Remo com os braços este abismo
De modo que sofro, esforço-me mais a remar
Essa cartilagem intelectual...
Então paro, observando,
E bardo, abstrato e veemente:

"-Olá, família que não tenho, leva-me,
Não seja rude a minha triste-alegria!"

Ò origens inesquecíveis do meu intelecto que não lembro!
Ò bonecas sujas das minhas filhas abstratas!
Ò lago onde os cisnes mentem brinquedos á cordas!
Ò barquinhos de papel á beira das docas!
Grande sol refletindo o casco baço da minha emoção,
grande emoção e metafísica espiritual sob as sombras
Sentidas dolorosamente e infatigavelmente
Na sensação de mim...

Tanto tenho amado as origens inesquecíveis que esqueci,
Tanto tenho juntado os fragmentos das bonecas que se partiram,
Tantos cisnes de brinquedo tirei do lago para encaixar os reais
Só para não perder-me neste momento
Só para não fingir-me na viagem,
Só para não sentir o vento passar em vão.
Mas mesmo assim tudo é vão,
Mesmo assim a vida é breve...

De repente, o bulício começa a ficar mais intenso,
Chegam mais homens e mulheres,
Atravessando a ponte do navio.

Crianças livres para o naufrágio,
Livres, sem a consciência disso,
Sonhados, sem a consciência de mim.

Deitem, crianças, antes de irem embora
Os teus sonhos franjados de papelão!
Deitem, amigos, antes de morrerem
A mensagem para cruzar a ilha e chegar ao extremo
Antes de tudo e de todos
E ser eu o meu próprio buraco negro.

Dói-me não ser porque sou de mias!

Mais gente alheia embarca,
Mais sensações minha se cruzam,
E toda sede de tornar-me marítimo empalidece-me,
Toda ânsia de inclinar-me daqui e não morrer pesa-me.
Pesa-me não ir comigo e livrar-me de mim.
Pesa-me como um rochedo
Onde o transeunte tropeça
E perde a viagem porque está enfermo.

Atiro o olhar outra vez para o paquete que destaca,
Fitando-o sem nenhum esforço.
Definindo-me lá, e eles aqui.
Definindo os espaços entre mim e mim.
E vejo o último transeunte que cruza a ponte do paquete,
E o seu passo é-me frio e lento,
Eterno e triste...
Então me recolho do seu segundo passo,

Recolho-me de saber que ele dará o terceiro
E o quarto, sem acenar-me a mão.
Cada passo mudo sinto dentro de mim com uma multidão ondeando.
Cada estrépito de fibra é um grito ao meu silêncio.

Por onde ir e chegar lá com esse sonhar?
Para onde partir e deixar de partir com real disso tudo por sonhar?
Como? Como? Não sei!
Só sei que devo continuar sentindo!

Então, decência emotiva do meu coração abstrato,
Partir-vos roçando sobre a minha sensação de vós
E o meu espasmo infinito alcançará os teus vômitos nas viagens!
Eis Eu longe e perto como as brumas que batem nas hélices,
Ou como um corpo morto no mar
Que todos olham subitamente para saberem quem é
E não o conhecem.

Ò, tantos embarcaram,
Tantos estão a pouco partindo,
Tanto dispersos entre o meu sentimento
Sorrindo as aventuras que hão de vir à frente,
As costas longínquas e antiquíssimas
Cheias de cais e noites frescas e arejadas.
Tudo isso como um sorriso tropical,
Tudo isso real e irreal ao mesmo tempo,
Tudo isso por dentro de mim e nunca comigo,
Tudo isso comigo e nunca comigo...

Quando olhei vasto e certo para todas as direções
Percebi que todos os outros paquetes haviam partido,
Percebi que o poente aproximava-se
E os marujos modernos trabalhavam já adentro do navio.
Ligavam motores, volantes e chaminés,
Puxavam a ponte, fechavam as escotilhas
E eu, com o meu último grito dinâmico e real brado:

"-Ò sensação minha, leva-me de partir
Essa utopia indelével da minha ânsia ardente!..."

E nada me responde, nada me move...
Estátua própria de mim...
Já anoitece - este sol de sombras...
Volto o olhar para o meu pai e ele já não se encontra mais lá.
Já não o vejo mais, não o sonho mais.
Entraram, e deixaram somente perfil de terem entrado.
já nenhum raio de luz me ilumina,
Nenhum gesto vela a minha alma incomoda.
Fixei toda a minha vida naquele momento eterno
Em que eu esperava a esperança
E a ironia do externo não me desvairasse tanto...

E começa partir, o paquete, como um frio do leste
Minha ânsia sensacionista...

Mas, ah, ruídos agora vís e desprezíveis enchem pouco o horizonte.
Vozes que baixaram os teus tons
E tornaram o vazio do meu coração cansado mais vazio e mais cançado.

Bulícios que se tronaram burburinhos e sumiram aos poucos na diminuição gradual de sua fadiga.

E as facilidades da alma, de estarem alegres mesmo longínquos,
E a aventura de não terem capacidade de perceberem que estão com medo.

Baila, silêncio esfolado da minha bússola!
Orquestra-te, brisa detodo o sossego aflito,
Todo o oceano e todo o vento dentro de mim!...

Partem, eles todas, essas sombras minhas...
Lá se vai o meu cansaço e minha emoção...
Assisto-me indo, regressando não sei para onde,
Envelhecendo a hora única a ação excessiva,
Esta hora faminta e absurda,
Esta hora de sede demasiada à alma
E o gemido travado -
Encarcerado e angustiado...

Pêsames da minha educação sentimental
Que pula dentro de mim,
pula como um golfinho morto nas praias anônimas...
Por que, ó dia indiferente,
Vais entre as penumbras da noite e não levas contigo o meu coração?
O meu coração sensível,
O meu coração perfumado de ar marítimo,
O meu coração real!

Sim, todos se foram, cruzaram o meu horizonte sentido.
Cansei-me do meu sonho sonhado.
Cruzei, minha gravura melancólica,
Circundei-me de roxos soturno...
Fiquei só, pertencente a mim mesmo como um túmulo contente.
Limpo o vidro da vida com um lenço sujo
E logo há somente um vácuo dentro da minha saudade,
Um vasto silêncio ao longe!
Eis que um naufrágio aparece em mim, como um raio
E o brilho repentino cora-me as pálpebras,
E fica só uma luz húmida e baça, chorando como uma criança à calafrios
E as suas lágrimas caem sobre o meu remorso que restou.
E a minha solidão retorna os sonhos em tijolos frios e vazios
Na parede suada de um dia de verão.

Que ternura... que pesar...
Não me ergo às alamedas nem as ilhas,
Na minha glória eu repousei sozinho no meu festim deserto,
Não vieram até mim pajens e princesas, trazerem-me
A coroa engrinaldada em meu trono de madeira...
Essa pompa estagnada de tédio...

Ò desfolhei-vos - falsos vindouros - essa Poética Sensação!
Meu coração cheio de fados,
Minha alma absurda e desamparada!

Ò livra-me, Senhor, do avaro
E do repleto abandono de mim...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

De manhã

De manhã, revejo o grande sol nascer
Para este lado da terra.
Gozo friamente como um doido,
Como se depois ele nunca fosse voltar,
E adoeço ao raio monótono dos átomos.

Ergo-me, minhas pálpebras estão quentes,
E saio, alegre, sem ligar para o sol
No horizonte quente e esquecido..

Entro em casa,
E sei, que naquele momento
Fui eu mesmo e uma criança...
Sim, senti infante o frescor da manhã,
Sem a responsabilidade de ter que entrar em casa
para preparar o café.

Dois Sonetos

I

Pobre a música do sonhador que é feliz,
Pobre a música que agrada somente
Os metáfisicos e não ao próprio sonhador. Pobre a semente
Que cresce fora do homem e ele é um alegre infeliz.

Sejas triste assim como deves ser.
Agrada-te de tua alma completa, essa
Que num edital de orquestra tem pressa
De obter a semente suprema. Elevas de prazer

A tua dor como um arco íris que procria
A felicidade falsa de tuas lembranças...
Navega ao fundo do nada extremo, nas distâncias,

E escreve um poema sobre a tua triste alegria!
Faz isso tudo além do homem e da ciência
Orgulhoso da tua alta inconsciência...

II

Vive a vida e o seu pesar, sozinho, incerto...
Ama a tua liberdade e a tua complexidade,
E colhe nas ânsias da tua subjetividade
A trancendência suprema do seu deserto...

Segura tudo como um sentimento de suporte:
A dor dura e disforme, dia após dia.
A felicidade ao fogo forte e fatal da alegria.
Sim, leva tudo isso mesmo após a morte!

Não sei quem sou nem quem tu és,
Descubra tudo que descobrirás um dia; a ti,
As batidas dos timbales e dos tambores que aqui

E na tua alma estremecem, e também ao som dos oboés...
A vida é simples demais, boa ou mal
- Mas só o espírito é trancendental!

Mãe-Silêncio

Não trazei-me ninguém, não trazei-me nada...
Não trazei-me companhia nesse momento...

É noite, estou só.
Nada vibra,
Somente o silêncio lento desmantela-se nas curvas dos móveis da minha casa.
Meu corpo calado é o infortúnio que a verdade trouxe.
Veio ter comigo, em meu berço - a Mãe-Silêncio -
Veio afagar-me, e chorei...

Ó Mãe-Silêncio! não divisa mas dispersa,
Cuida de mim para que eu não acorde exausto,
Cuida de mim, ergue a tua mão infinda
E traz em tua taça egrinaldada de tristeza, a dor,
E dá-me de beber como se bebe o absinto...

Percorri a estrada até em casa, sozinho,
E não colheram os embriões no chão,
Não acalentaram a margem da urina de minha mãe,
Não consolaram o grito mudo da minha sombra miserável!

Ò Mãe-Dia, Mãe-Noite, Mãe-Cor, Mãe tudo!
Por que atirou-me o arco se não errou a flecha?
Por que passas-te a tua túnica em minha alma
Se não errou o véu da tristeza?

Ò Mãe-Silêncio, eu não farei mais do que copiar-te em verso...
Ah, és para mim a angustia indivisa,
És para mim como um vulcão se pulso
O eterno intervalo da minha dor...

De leve, seranamente

De leve, serenamente
Ergue-se uma canção dentro de mim...
Ergue-se uma tristeza invisível ao mundo exterior.
A minha tristeza é tão clara para mim como a água é para todos!
Que desgraça a natureza humana ter posto um embrião
Onde o pranto da vida chorou em cima...

Errei a igreja da cerimonia, e não me consolaram...
Trouxeram até mim falsos arquitetos dos sonhos
Para que me desorientassem do meu mundo.
Tentaram simpatizar comigo mas eram indiferentes a mim.

Não tinha percebido quando cheguei aqui,
E quando cheguei, estava tudo mudado.
As casas, as árvores, as coisas já não eram as mesmas
E as esperanças dos idílios murcharam em silêncio

Não tive tempo para chegar até as taças da vida para sorrir,
E quando supus que chegava, não sorria!
Não fiz mais do que me negar a vida.
Não fiz mais do que viver sem se viver dentro de mim, não o sei. -
Pessoas de alma calma passaram diante de mim,
Passaram longinquamente perto de mim.
E passaram catando éclogas também calmas...
Não pude segui-los,
Não pude nem sequer sair do meu lugar.
Não pude alcançá-los para que me abrandassem a alma.
Sim, sou como a criança das cidades e tremo!;
Tremo como um gesto físico de todos os gestos!

Nunca tive esperanças para as maravilhas do mundo,
Ao calor do sol supus outro sol de acordo comigo.
Ao clarão escuro da lua supus outra lua.
Na guerra o meu esforço foi como um pão velho jogado no meio da rua
E amassado por um comboio antes que o mendigo o pegasse.
Minha vida? - gozo inútil sem sexo nem prazer...

Vácuo Complexo (alma complexa)

Desenterrei da minha alma extensa o vácuo do universo,
E no desabrochar das flores escuras desse vácuo
O mel-amargo desceu-me pela espinha abaixo...
Senti-o em mim como uma turbulência sem terror,
Senti chorar todas as minhas fibras complexas.
E, conscientemente inconsciente passei pelas amplidões do mundo
Como um bicho absurdo anunciado ao despertar dos sonhos.

Não sou tal qual aquele que julgava ser.
As sensações de criança que concebia a mim mesmo
Mandei-os embora pelas portas do fundo porque senti-me diverso,
E balançado em direções sem sentido
A inteligência de compreender misturou-se-me com a inteligência de não compreender!
Compreensivelmente incompreensivo, reparei em mim,
E a ânsia, já irreal, estourava em espumas de carne e espírito...

(Ó meu ser indefinido, que será de ti nesta forma de vida?)

Tive grandes propósito para a alma.
Tive episódios eternos de tanto supor.
Tive naufrágios universais em minha alma
Da festa trancendental onde os astros
Em uma oscilação monótona esbarram entre si e os outros.

Mas, em fervente imensidade da alma,
Da alma infinita entre o vácuo e as estrelas,
Nas ânsias dos sonhos e da supremacia
Saber a verdade -
Saber que Deus não tenha feito o universo, mas suposto.
Saber que somos a suposição de Deus por ele mesmo.
Como se esta suposição fosse um teste
E o real de nós estivesse em outro lugar, em outro tempo!
Esperando que a suposição deixe-se de ser,
Esperando que a suposição morra -
Esperando que eu também acabe de supor...

Noite

A tarde finda, e as nuvens de cinza alaranjado e frias
Pouco a pouca desaparecem no horizonte taciturno,
E a cor roxa com negra da melancolia se confundem.
Flutuam farrapos de nuvens quase policromas,
O ouro vai baixando, se escondendo,
E o sossego começa além disso tudo!,
Começa além de todas as casas, árvores e gentes.
O céu despe-se, e as sombras já são frias.
Sim, a escuridão que paira por cima das casas e dos cumes,
A vida do bulício sendo agarrada pelo silêncio.
Esse mesmo silêncio cai por sobre mim,
Cai como um manto que se solta dos ombros dos príncipes-das-trevas,
E depois dispersa-se em toda a existência.

Luzes elétricas rutilam,
Paredes enegrecem,
O céu já é um escuro monótono e diverso,
E a lua está invisível para mim.
Ò, não, estas sombras não!
Estas sombras trazem das distâncias
Pavores de todas as latitudes e longitudes,
horrores de abismos e de assombros,
Monstros de angustia e solidão...

Ó supremas invocações que a noite traz!
Ó vácuo extremo de treva e mistério!
Quem és tu?
Mas ah, estrelas rutilantes sobem - notabilíssimas,
E acendem pouco a pouco em meu olhar (também frio)
Um amabiíssimo fascínio estelar...

Por fim, enxerguei a lua,
Lá no fundo, emergidamente branca,
Sem monstros, sem sombras, sem ninguém...
Antiquíssima!
E ao meu redor tudo escuro,
Ao meu redor inútil!
Uma lágrima ergue-se dentro de mim,
E, real, parte para um grande abismo,
Para um grande vácuo de nada,
- Que sou eu mesmo...